Anteriormente demos uma pequena introdução sobre os conceitos gerais que governam a análise de vínculos (artigo). O objetivo agora é apresentar com mais detalhes os elementos visuais que compreendem a construção de diagramas e como utilizá-los de forma mais produtiva.
Tanto as entidades quanto as ligações possuem diferentes formas de representação e podem (ou devem) ser utilizados para seus fins específicos. Portanto, conhecer mais sobre cada uma delas nos ajuda a construir diagramas mais didáticos e poderosos.
Vamos começar pelas entidades. Elas costumam representar os “sujeitos” das análises, aqueles que executam as ações, ou até mesmo a própria ação, em alguns casos, como veremos aqui.
As entidades podem assumir quatro representações visuais principais: ícone, linhas de tema, caixa de evento e forma geométrica.

Utilizamos as entidades do tipo ícone para a maior parte dos diagramas. Elas representam pessoas, empresas, locais, telefones, contas, documentos, computadores, ou qualquer outro sujeito que participa da análise.
Os diagramas de ícones são ideais para demonstrar relacionamentos, resumo de transações, telefonemas e eventos diretos entre as entidades. Eles são muito úteis para enfatizar agrupamentos, interlocutores em comum, relacionamentos diretos, ações entre grupos e caminhos.
Neste ponto, a primeira coisa importante é utilizar a imagem correta para cada entidade. As melhores ferramentas já trazem um conjunto abrangente de imagens, porém, é possível obter novas em sites da internet ou criar novos customizados, além de utilizar a própria foto quando se tratam de pessoas, por exemplo, ou a logo, quando a entidade é uma empresa.
Lembre-se que as imagens dos ícones darão a primeira interpretação sobre a semântica da análise. Portanto, se errarmos na escolha das imagens, podemos comprometer a qualidade do relatório produzido.
Além da imagem, é preciso dar uma atenção especial para as etiquetas – e isso serve para todas as representações de entidades. Utilize sempre etiquetas coerentes, concisas e com conteúdo mínimo suficiente para explicar o necessário. Evite conteúdos longos e desnecessários, isso vai tornar difícil a interpretação dos dados.

As caixas de evento, como o próprio nome já diz, são entidades ideais para representar eventos. Elas possuem formato especial e organizam os dados de maneira distinta também, e ajudam a evidenciar eventos em um diagrama. Elas organizam os dados dos atributos dentro de uma caixa, o que ajuda a produzir diagramas muito didáticos e elegantes.
São muito úteis quando se precisa separar e evidenciar o que são os atores e o que são as ações em um diagrama, ainda mais quando existem múltiplos participantes em cada evento.
Como as caixas de evento possuem separações dentro dela, é possível organizar melhor as etiquetas, distribuindo-as nas partes superior, central e inferior. Estilos diferentes de linha e as cores também são elementos que podem ajudar a evidenciar ou separar diferentes eventos em uma análise.

As linhas de tema são utilizadas principalmente nos diagramas temporais e naqueles que se deseja evidenciar uma entidade em especial e destacar uma sequência para as suas ligações, entidades ou eventos ligados.
Os diagramas de linhas de tema geralmente evidenciam as ligações entre as diversas linhas, organizam eventos entre os participantes, ou qualquer combinação entre os diversos tipos de entidades.
Seu uso traz muita riqueza e elegância aos diagramas, mas é preciso cuidado com o seu uso, porque o excesso de linhas de tema pode tornar o diagrama confuso ou muito poluído. É claro que durante a execução da análise o analista consegue controlar melhor os excessos, e esse cuidado se torna fundamental na apresentação final dos diagramas.

As formas geométricas, que possuem uma representação visual mais simples, são muito recomendadas para os diagramas mais volumosos e em que o tema seja o mesmo para todas as entidades, como nas análises telefônicas, bancárias, logs, entre outros. Apesar de simplificada, elas podem conter elementos visuais que enriquecem muito os diagramas, como os tamanhos, contornos e preenchimentos.
Nos diagramas com formas geométricas, o foco está muito mais no posicionamento e no agrupamento dos objetos e nas relações entre eles do que na interpretação semântica de cada elemento. Em geral, nos diagramas muito densos, as formas geométricas ajudam a deixar o ambiente mais limpo e organizado, retirando do leitor a necessidade de interpretar cada imagem individualmente.
Em algumas análises específicas, como aquelas que envolvem centralidades, homofilia, detecção de comunidades e núcleo central, o uso de formas geométricas para as entidades torna muito mais fácil a interpretação dos resultados.
Além do mais, os diagramas com formas geométricas tendem a ser mais performáticos, uma vez que a renderização desses elementos costuma ser otimizada.

As ligações, por sua vez, que parecem ser elementos simples que tem a função de ligar as entidades, precisam de atenção especial, porque possuem uma série de elementos visuais que contribuem significativamente para a interpretação dos dados.
O estilo da linha utilizada é o primeiro ponto importante. Linhas cheias são utilizadas para representar as relações efetivas. Já as linhas tracejadas ou pontilhadas podem representar relações não confirmadas ou suspeitas.

A direção da ligação é outro elemento que precisa ser bem utilizado. Relações entre pessoas podem exigir o uso de setas – como pai e mãe – pois se estiverem ligando pessoas do mesmo sexo é importante saber quem é pai de quem e quem é mãe de quem. Transações e movimentações também exigem setas, para deixar evidente o sentido do fluxo. Como regra geral, sempre que se precisa deixar claro o sentido em que a relação precisa ser lida, as setas dão essa direção.

Outro tema importante é a multiplicidade da ligação. Nem sempre mostrar todos as ligações entre um par de entidades é o mais importante em uma análise. Para esses casos, pode-se resumir as ligações alterando a multiplicidade para direcionada ou única, podendo ainda incluir a soma de um atributo numérico para dar a ideia do volume real da ligação.

Outro artifício importante é a espessura utilizada na ligação. Ela ajuda a enfatizar a importância de um vínculo, ou ainda ajuda a expressar visualmente o volume de um atributo desta relação. Ao invés de utilizar um atributo numérico para expressar uma quantidade na ligação, a espessura proporcional pode fazer esse papel e tornar o diagrama mais intuitivo.

As cores devem ser utilizadas com bastante frequência, especialmente para evidenciar vínculos mais importantes, para distinguir a diferença semântica entre ligações em diagramas mais complexos, ou para expressar algum atributos específico da ligação.

Por fim, as etiquetas também são parte essencial da criação dos diagramas, e o seu uso seguem, via de regra, as mesmas recomendações dadas para as etiquetas das entidades. O único ponto a acrescentar aqui é que diferentemente das entidades, as ligações possuem espaço ainda mais limitado para organizar as etiquetas, e o seu uso excessivo pode prejudicar ainda mais na nitidez dos dados nos diagramas.
Conclusão
A construção de diagramas não é um bicho de sete cabeças nem tampouco existe um manual dizendo o que é certo ou errado, mas exige, porém, um pouco de técnica e criatividade. O que conta mesmo é se concentrar em manter os objetos visuais organizados de maneira que o leitor seja conduzido de forma correta pelo fluxo desejado.
É o mesmo que escrever um bom texto, enfatizando os atores principais, seus eventos de destaque e as conclusões corretas, no entanto usando elementos visuais para dar mais amplitude e utilizar menos palavras para desenvolver o roteiro.
Na prática, dá para misturar todos os elementos visuais aqui abordados em um único diagrama, caso o analista julgue necessário. O importante é que a história seja bem contata.
Por isso, esperamos que este conjunto de dicas seja útil e o ajude a construir diagramas mais poderosos e didáticos, e que o treino ao usar cada elemento visual o eleve em criar diagramas cada vez mais auto explicativos para os leitores!